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Primeiro dia do 1º Seminário-Oficina do “Protocolo da Cultura Viva para Situações de Catástrofes Naturais, Climáticas e Pandêmicas” marca início de ciclo nacional de escutas

  • Foto do escritor: ecomuseurural
    ecomuseurural
  • 6 de nov.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 12 de nov.


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O primeiro dia do 1º Seminário-Oficina do “Protocolo da Cultura Viva para Situações de Catástrofes Naturais, Climáticas e Pandêmicas”, realizado em 5 de novembro de 2025, marcou o início do ciclo nacional de escutas promovido pela Rede Nacional de Pontos de Cultura e Memórias Rurais e pelo Pontão Nacional Territórios Rurais e Cultura Alimentar, em parceria com a Comissão Nacional de Pontos e Pontões de Cultura e o Ministério da Cultura. O encontro teve como objetivo dar visibilidade para as vivências dos pontos de cultura para ampliar a escuta na construção coletiva do Protocolo da Cultura Viva, instrumento que reconhece a cultura como direito humano e como dimensão essencial nas políticas de prevenção, resposta e reconstrução diante de emergências climáticas, sanitárias e socioambientais.


A abertura, conduzida pela Rede Nacional de Pontos de Cultura e Memórias Rurais e pelo Pontão Nacional Territórios Rurais e Cultura Alimentar, apresentou o histórico da proposta, nascida após a tragédia climática da Região Serrana do Rio de Janeiro, em 2011, quando pontos de cultura se uniram em mutirões de solidariedade, acolhimento e reconstrução social. Desde então, a Rede Cultura Viva vem construindo protocolos territoriais de solidariedade e resiliência que, agora, com apoio institucional, serão sistematizados em diretrizes nacionais baseadas nas práticas dos territórios. A proposta organiza-se em três eixos estruturantes: prevenção, resposta cultural e pós-impacto, que orientam as ações da cultura frente às situações de crise.


Durante o seminário, diferentes vivências foram compartilhadas por representantes de pontos e pontões de diversas regiões do país, revelando a amplitude e a profundidade das ações culturais em contextos de emergência.


O Ecomuseu Natural do Mangue (CE) destacou sua atuação durante o derramamento de óleo de 2019, que atingiu todo o litoral nordestino. A instituição ressaltou o protagonismo das comunidades ribeirinhas e pesqueiras na primeira resposta, o papel da educação ambiental e cultural na defesa dos manguezais e a importância de integrar os saberes tradicionais e científicos na proteção do território. Entre suas ações, estão o Museu Itinerante do Mangue, que já percorreu 13 estados brasileiros, e o curso livre sobre cultura e meio ambiente, voltado à formação comunitária. O grupo também alertou para a ausência do tema “manguezal” na educação formal, propondo sua inserção como conteúdo pedagógico essencial à valorização dos ecossistemas costeiros.


A Tenda de Umbanda Estrela Guia (PR) relatou a atuação solidária durante as enchentes no Sul e as cheias recorrentes do Rio Barigui, em Curitiba. O terreiro, transformado em abrigo e ponto de escuta, mobilizou campanhas de doação, ofereceu alimentação e apoio psicossocial e articulou redes de solidariedade entre comunidades de fé e cultura. O barracão da Tenda, com mais de 600 m 2, tornou-se um centro comunitário, abrigando famílias, organizando campanhas e atuando como referência de espiritualidade e solidariedade popular. A vivência evidenciou o papel dos terreiros como espaços de cuidado e reconstrução emocional, reafirmando que a cultura se manifesta como prática viva de resistência e cura coletiva.


A Companhia Cultural Bola de Meia (SP) compartilhou sua trajetória de atuação em situações de emergência, como as enchentes de São Luís do Paraitinga (2009), a crise humanitária em Roraima (2017–2019), a tragédia de São Sebastião (2023) e a pandemia da COVID-19. A organização destacou o papel da arte na reconstrução simbólica e emocional, desenvolvendo atividades culturais com crianças e famílias atingidas, articulando redes solidárias e promovendo a escuta e o cuidado através da linguagem artística.


O Pontão de Cultura Tríade (GO) relembrou sua mobilização durante o rompimento da Barragem de Algodões (PI), em 2009, que resultou no envio de carretas de alimentos e apoio direto às famílias atingidas. O grupo destacou o papel da cultura na logística solidária e na mobilização comunitária, mostrando como a rede de pontos atua de forma imediata e orgânica em situações de calamidade.


A Associação Cantalomba (RS) relatou sua atuação nas enchentes de 2024 no Vale do Sinos, transformando seu espaço cultural em abrigo comunitário, organizando atividades artísticas voltadas a crianças e mulheres e criando o projeto SOS Costura Solidária, que costurou roupas e insumos para doação e gerou trabalho para dezenas de mulheres. As ações revelaram como o fazer cultural se converte em resposta concreta ao desastre, unindo arte, economia solidária e acolhimento.


O Instituto Socioambiental Pericumã (MA) apresentou ações de formação, incidência pública e educação socioambiental junto a comunidades quilombolas afetadas por cheias e inundações recorrentes do Rio Pericumã, agravadas pela precariedade da infraestrutura hídrica. Suas práticas uniram arte, mobilização e incidência política, contribuindo para o fortalecimento da organização comunitária e da defesa ambiental.


Por fim, o Instituto Cresça, Ponto de Cultura Território Encantado (MA) compartilhou vivências de apoio a famílias quilombolas durante as enchentes e a pandemia da COVID-19, com projetos voltados à educação ambiental, à permanência escolar e aos mutirões de limpeza das praias, combinando arte, solidariedade e formação cidadã.


O conjunto das falas evidenciou que os pontos e pontões de cultura constituem verdadeiras infraestruturas comunitárias de cuidado e resiliência, atuando antes, durante e após as crises. As vivências demonstraram que a cultura é instrumento de mobilização solidária, de reconstrução emocional e simbólica e de reparação do tecido social, nas quais o acolhimento e a solidariedade se traduzem em gestos

cotidianos de cura, memória e pertencimento. A cultura manifesta-se também em ações concretas, como a entrega de alimentos, as cozinhas comunitárias, as escutas coletivas, as práticas artísticas e a educação popular, reconhecidas como expressões de solidariedade e cidadania ativa. A partir dessas vivências, as iniciativas culturais deram origem a novas formas de produção e redistribuição, como oficinas de costura solidária, redes de troca e circuitos de apoio mútuo, que transformaram o momento de emergência em processos criativos e sustentáveis. Essas ações configuram tecnologias sociais da cultura, capazes de articular arte, memória e cuidado em estruturas de proteção coletiva.


O primeiro dia do seminário concluiu que o Protocolo da Cultura Viva deve consolidar diretrizes nacionais adaptáveis aos territórios, valorizar saberes locais, criar mecanismos de financiamento emergencial, promover formação técnica e comunitária e fortalecer parcerias intersetoriais com meio ambiente, saúde e defesa civil. Ao mesmo tempo, as vivências mostram que a cultura atua como linguagem da transição ecológica e da justiça climática, reunindo ecologia, arte e memória numa mesma agenda de vida.


Essas vivências inauguraram o processo de sistematização das práticas territoriais, que segue sendo aprofundado nos dias seguintes com o diálogo entre diferentes biomas e contextos culturais, fortalecendo a construção coletiva do Protocolo da Cultura Viva. No encerramento do encontro, as falas reforçam que “cultura é cuidado, resistência e reconstrução da vida”, uma força enraizada nos territórios, que mobiliza solidariedade, preserva memórias e sustenta o país nos momentos mais difíceis.


Estiveram presentes e contribuíram com a partilha das vivências:

Marjorie Botelho, da Rede Nacional de Pontos de Cultura e Memórias Rurais (DF); Aparecida Alcântara, da Associação Caiçara de Promoção Humana / Rede Tucum (CE); Mãe Arlete da Silva de Jesus, da Tenda de Umbanda Estrela Guia (PR); Fabiana Barros Pinho, do Ecomuseu Natural do Mangue (CE); Jacqueline Baumgratz, da Companhia Cultural Bola de Meia (SP); João Almir Mendes de Sousa, do Pontão de Cultura Tríade (GO); Maria Suziane Gutbier, da Associação Cantalomba (RS); Nivaldo Luís Nogueira Nunes, do Instituto Socioambiental Pericumã (MA);e Raimundo Muniz Carvalho, do Instituto Cresça – Ponto de Cultura Território Encantado Brasil Norte (MA).





VEJA A TRANSMISSÃO NA ÍNTEGRA DO PRIMEIRO DIA DO EVENTO



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