Segundo dia do 1º Seminário-Oficina do “Protocolo da Cultura Viva para Situações de Catástrofes Naturais, Climáticas e Pandêmicas” destaca relevância estratégica da iniciativa
- ecomuseurural

- 12 de nov.
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O segundo dia do 1º Seminário-Oficina do “Protocolo da Cultura Viva para Situações de Catástrofes Naturais, Climáticas e Pandêmicas”, realizado em 6 de novembro de 2025, deu continuidade ao ciclo nacional de escutas promovido pela Rede Nacional de Pontos de Cultura e Memórias Rurais e pelo Pontão Nacional Territórios Rurais e Cultura Alimentar, em parceria com a Comissão Nacional de Pontos e Pontões de Cultura e o Ministério da Cultura. O encontro reforçou o papel da cultura como dimensão estruturante das políticas de prevenção, resposta e reconstrução diante de emergências climáticas, sanitárias e socioambientais.
A programação do dia retomou os eixos orientadores do Protocolo: prevenção, resposta cultural e pós-impacto, destacando as experiências locais e comunitárias que demonstram como a cultura atua de forma concreta frente às crises. As partilhas evidenciaram que os pontos e pontões de cultura, são espaços de produção simbólica e redes vivas de cuidado e solidariedade.
O Ponto de Cultura ProPiaçá (SP) relatou a realidade do litoral sul paulista, em Itanhaém, onde a comunidade enfrenta enchentes recorrentes e isolamento territorial. Quando o rio transborda, as pontes ficam submersas e o acesso a serviços básicos é interrompido. Durante a pandemia de COVID-19, a organização transformou sua sede em espaço de convivência, acolhendo crianças e famílias com oficinas culturais, reforço escolar e ações de cuidado. O grupo também desenvolve atividades de valorização da cultura caiçara e indígena, fortalecendo o sentimento de pertencimento e identidade como forma de resistência diante das vulnerabilidades ambientais e sociais.
A Associação Rum Black – Ponto de Cultura Afro-Brasileiro (GO/DF) destacou sua atuação em contextos de vulnerabilidade urbana e territorial, marcados pela pandemia de COVID-19 e pelos impactos da crise climática no Cerrado. A organização articulou ações solidárias em favelas, quilombos e assentamentos, distribuindo alimentos, água e kits de higiene para milhares de famílias. Também promoveu campanhas de vacinação, escutas comunitárias, formações sobre justiça climática e projetos de reflorestamento com espécies nativas. As mulheres negras assumiram papel central nessas ações, afirmando a solidariedade e o cuidado com as tecnologias ancestrais de sustentação da vida.
A Associação Capacitar – Transformando Vidas (BA) apresentou o contexto de seca prolongada e desertificação no semiárido baiano, agravado pela ausência de políticas públicas e pela pressão de empresas mineradoras sobre os territórios rurais. A organização atua na comunidade de Lagoa do Angi, em Campo Alegre de Lourdes, promovendo formação cultural e esportiva para jovens, oficinas de leitura e campanhas solidárias durante a pandemia. Suas ações de incidência política e defesa territorial, realizadas em articulação com fóruns e coletivos locais, fortalecem o protagonismo comunitário diante da escassez hídrica e da exploração ambiental.
O Grupo de Apoio e Estudos Zumbi – TEZ (MS) compartilhou as ações desenvolvidas durante a pandemia de COVID-19, com foco na solidariedade e inclusão digital em comunidades urbanas e periféricas. O grupo distribuiu alimentos, máscaras e chips de internet para famílias sem conectividade, garantindo a continuidade das atividades escolares e culturais. Também produziu conteúdos de comunicação popular sobre autocuidado e saúde mental, e criou espaços de escuta e apoio emocional para mulheres negras e quilombolas em situação de vulnerabilidade. Essas práticas demonstram como a cultura atua como ferramenta de cuidado, escuta e fortalecimento comunitário.
O Quilombo de Maria (BA), localizado na Ilha de Itaparica, relatou suas práticas de espiritualidade e autocuidado durante a pandemia de COVID-19. O coletivo fortaleceu rituais com ervas, banhos e chás medicinais, associando fé, arte e memória como caminhos de cura e reconstrução simbólica. Promoveu vivências coletivas, rodas de conversa e partilhas espirituais, reafirmando a espiritualidade como dimensão essencial da cultura e do cuidado nos territórios quilombolas.
O Ecomuseu Rural (RJ) compartilhou sua vivência de mobilização comunitária durante as enchentes de 2011 na Região Serrana que envolveu a distribuição de alimentos usando o carro 4x4 para chegar em lugares onde as estradas estavam sem condições de tráfego, a criação de um ponto de comunicação por conta da antena gesac e do gerador de energia e apresentou suas ações na pandemia de COVID-19 e no pós-pandemia. O grupo participou em parceria com o grupo de mulheres da articulação nacional da agroecologia da produção de Cestas Cuidar-se que foram distribuídas para mulheres do campo e da cidade que estavam na linha de frente em suas comunidades.
Depois inspirados por essa ação distribuíram em parceria com o Coletivo Grãos de Luz mais cestas pela região.Também produziu as Caixinha de Autocuidado, com produtos das mulheres rurais da região envolvendo ervas e óleos medicinais, gerando renda e fortalecendo o cuidado coletivo. E articulou uma rede de terapeutas e psicólogos voluntários para atendimentos on-line de mulheres rurais e lideranças comunitárias, reconhecendo o cuidado emocional como dimensão fundamental da cultura e da saúde coletiva que segue até os dias atuais.
O conjunto das falas evidenciou que os pontos e pontões de cultura constituem infra estruturas comunitárias de proteção e resiliência, atuando antes, durante e após as crises. As experiências demonstraram que a cultura é instrumento de prevenção de riscos, mobilização solidária e reconstrução dos vínculos sociais, integrando arte, memória e cuidado na reconstrução da vida. As ações relatadas traduzem uma pedagogia do afeto e da resistência, onde cozinhas solidárias, mutirões, redes de escuta e práticas espirituais se tornam expressões culturais de sobrevivência e de cidadania ativa.
O seminário concluiu que o Protocolo da Cultura Viva deve fortalecer essas experiências como políticas públicas permanentes, reconhecendo os pontos e pontões como infraestrutura de cuidado, comunicação e reconstrução simbólica. A cultura é o fio que sustenta a vida nos territórios, tecendo solidariedade, esperança e autonomia diante das crises contemporâneas.
Estiveram presentes e contribuíram com as experiências:
Marjorie Botelho, da Rede Nacional de Pontos de Cultura e Memórias Rurais (DF); Aparecida Alcântara, da Associação Caiçara de Promoção Humana / Rede Tucum (CE); Ademar Ribeiro Soares, da Associação Capacitar – Transformando Vidas (BA); Bartolina Ramalho Catanante, do Grupo de Trabalho e Estudos Zumbi – TEZ (MS); Joseph Espíndola, da Associação dos Amigos do Rio Piaçaguera – ProPiaçá (SP); Lidi Terra, da Associação Rum Black – Ponto de Cultura Afro-Brasileiro (GO) e Sayonara Bezerra Malta e Mestra Carla Antelante, do QuilombodiMaria (BA).
VEJA A TRANSMISSÃO NA ÍNTEGRA DO SEGUNDO DIA DO EVENTO










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